"O tempo das estações no corpo": crítica de Airton Tomazzoni para "Dezoito Estações de Outono"
Tempo e presença se instauram como um par inseparável que promove um baile de imagens diante de nós, conduzidas por dois intérpretes com maturidade e domínio cênicos. Entramos num percurso que exige de quem está no palco e na plateia, uma outra temporalidade. Há de se deter, suspender, desacelerar, aceitar a duração das horas sem impaciência. Afinal é uma entrega sutil, delicada e pungente que nos é ofertada.
Hiroshi Nishiyama foi aluno de Kazuo Ohno, e por 20 anos frequentou aulas nos eu estúdio no Japão. Então também estamos diante de um intérprete que carrega os ensinamentos consigo, o que é um tributo e uma reverência. Ele carrega esse patrimônio consigo. E, em cena, ganha especial contorno com a performance surpreendente da gaúcha Ana Medeiros, que consegue encontrar a medida dessa linguagem oriental e estabelecer sentidos únicos. Ana é dona de cada gesto que se prolongam e se recolhem, que criam seus conflitos internos que vão sendo partilhados com a gente.
Vamos sendo colocados diante de cenas que constroem imaginários a partir desse corpo que se dispõe a encontrar expressão singular em cada mover. E esse processo vai das diminutas às expansivas possibilidade desses corpos que se colocam em dança. Em partituras que exploram tensões e suavidades, estranhezas e familiaridades, rumores e silêncios. O corpo que dança parindo movimentos e os fazendo sucumbirem na regência do tempo. Outonos e primaveras se misturam e se espalham assim como os gestos em cena, em estações que insistem em partilharem as sutis mudanças e finitudes do viver."