Construindo um pensamento sobre o Butoh a partir das impressões de alunos e dançarinos

 


(foto de Kowa Ikeuchi)


BÁRBARA

Butoh é algo que te faz perder o controle. É entrar em portas que te levam a lugares vistos um dia, inimagináveis e no lugar de estar aqui no agora. Ele te leva à pura Presença e também te abre o Portal dos sonhos onde a Magia existe.

CHRIS

Butoh tem sido uma pesquisa importante para mim. Essa impossibilidade  de definir o mistério. Os mestres deixaram-nos um caminho no espaço-tempo. O Butoh me traz ao mesmo tempo o passado, o presente e o futuro, e essa sensação é tão forte e arrebatadora que sinto um tremor interno... É um chamado para aquilo que é belo e /ou feio, mas que pode transpassar limites e tornar visível no corpo o sentir e sentido. São camadas para fora e para dentro. É a flor, a morte e o abismo. É o último e o primeiro suspiro/respiro.

DANI

Butoh é o parque de diversões da existência.

FLÁVIA

Para mim, se o Butoh nasce do pós-guerra, do sentimento de desespero e sonho, do peso na carne em Hijikata, a sublimação pela dor em Ohno. É nessa terra que dançamos, indo fundo com nossas raízes, voltando pro ar com nossas flores.

MARCELLA

Butoh, um exercício do sentir. Sentir o corpo por dentro, a pele, os ossos, as sutilezas, as entranhas, as transições. Penetrar e ser penetrada pelo ínfimo, por detalhes, contrastes, pelo infinito ou pelo invisível, o que revela a imaginação. 

É ir de encontro ao que nos atravessa, tocando, torcendo, rasgando, desvelando memórias. Um respiro sóbrio e íntegro, permanência.

 É não saber porém intuir e permitir arriscar-se no desconhecido, no desconforto, em movimentos oníricos, nos abismos do ser.

 É vida que brota, divisor de águas e caminho de vida. 

Algo assim: indefinível, atemporal, ancestral.

Um presente, presença.

MÁRCIA

Pra mim, a prática do Butoh tem sido um convite generoso a penetrar em quem sou e naquilo que me constitui na junção espiralar entre passado, presente e futuro. Sinto que as aulas me incitam à percepção das muitas camadas que me constituem, fazendo com que as danças que me habitam se desvelem e revelem, silenciosamente, a essência da vida.

NARA

Butoh é a veia da carne. Dessas que só vazam quando se esvaziam. E levam o sangue quente ao espaço fino que evapora em gotas tudo aquilo que somos. Porque o não somos é o mais importante. Para que brote a expressão do nada, é preciso que sejamos silêncio. E só assim é possível cantar.

RACHEL

Butoh é sentir o espírito em movimento
É deixar-se mover por seu sopro
por vezes ventania

Ver desejos profundos em ato.

Verdade interior sob a luz mais intensa e a sombra mais escura.

É ser o invisível.
Dar-lhe pés, mãos, um pulsar

É não ter medo da morte
É dançar com os mortos

Ao menos assim me foi desde o primeiro dia
E como eu precisava dançar com aquela multidão
Dançar até com o que não nasceu
Mas que existia

Butoh é poder tocar nesse impossíveis delicados
Nesses entre sutis
E não sucumbir

Ao contrário
Erguer-se
Ainda mais
Neste agora
E aqui

Ainda que não acredites,
Sentirás.

SUZANA

Butoh é tudo que eu não sei.

Mas tenho certeza sentido, intuindo.

São todas as palavras não inventadas que exalam da minha alma.

(E que bom não saber!)