"Caminhar não leva à oração?": depoimento de Yoshito Ohno, julho de 2017



Aula de Yoshito Ohno em 7 de julho de 2017

"Muitas coisas estão acontecendo em Kyushu agora. É uma catástrofe que nos faz pensar que não precisamos mais de arte. Neste instante, o mundo está em apuros.

Quando vejo essas coisas, me pergunto o que são japoneses e o que devemos fazer? O que é a arte no meio disso? O que o Butoh deve fazer?

Anteriormente, um dançarino de Israel disse:

"É muito difícil caminhar agora. A estrada está cheia de bombas. Quando vou a um restaurante, ocorre uma explosão. Que tema devo dançar, é uma guerra?" Ele pergunta.

E eu respondi: 

- Por favor, dance para a arte permanecer. A guerra terminará em breve. É importante que nossa cultura esteja viva quando todos voltarem. No futuro, a cultura será o poder de criar um país para o amanhã, como as montanhas e os rios. O país está quebrado, mas  há montanhas e rios.

E ele fez sua caminhada no meu palco. Israel caminha no palco, porque faz sentido. Ele não pode andar no seu cotidiano. Ele sabe o que significa dar um passo, ele sabe o que significa sobreviver. Porém, você pode caminhar no palco porque é seguro. Como é feliz poder andar com paz de espírito.

Há muitas pessoas ao redor do mundo que estão tendo dificuldade em seguir em frente. E se nós só déssemos um passo, e depois outro? Você não pode fazer isso na vida sem saber o quão feliz você está sendo por conseguir caminhar. É simples, mas andar é difícil.

Quando me perguntam: "O que é o Butoh?"

Para mim, Butoh é um mundo em paz, sem guerra. “É uma oração” - Yoshito sensei sempre respondeu.

Os pais de Kazuo Ohno eram seguidores entusiasmados de Jodo Shinshu. Quando morei em Katsuura durante a guerra, havia cerca de 7 (sete) santuários e templos, e minha avó visitáva-os todos os dias. Eles situavam-se em uma grande escadaria, mas eu costumava segui-la.

Meu pai e a minha mãe eram cristãos. Eu também fui a uma escola cristã, então ia todos os dias à igreja com meus pais. Porém, eu não sou cristão. Há cristianismo e budismo em mim, e não posso dividi-los.

Há muitas religiões aqui no estúdio. Alguns alunos são hindus, uns islâmicos e outros cristãos. Alguns não têm um deus. Porém, orar é comum a todos. Então, eu pensei que não haveria problema em orar. Os japoneses realmente não entendem o que está acontecendo em outros países. No entanto, muitas pessoas estão praticando butoh quando as coisas ficam mais difíceis. Às vezes, a aula não começa a menos que você comece a orar. Pode ser na forma de um oração pessoal.

A vovó queria um lugar para orar. Ela teve que orar durante a guerra. Agora, estamos numa era dessas novamente.

O que significa caminhar para você? O que significa orar? Caminhar, caminhar não leva à oração?

Pessoas vêm de todos os lugares do mundo até aqui. Muitas coisas estão acontecendo agora. Não podemos estar alheios a isso. Tudo está relacionado.

Vou ficar em um ponto do universo. Primeiro de tudo, conheça o espaço. Coloque seu corpo na parede e fique de pé. Então, você pode puxar um pouco o queixo. A posição do queixo é muito importante. E se você tivesse seu queixo empinado quando falasse com alguém? Se você destacar o queixo e disser eu te amo, pode confiar em mim? A altura do queixo é uma diferença em milímetros. Apenas baixá-lo por um milímetro mudará a maneira como você olha para a vida.

Você não pode estender o peito. Se você está orgulhoso, está ótimo, vai aparecer. Eu costumava pensar que esticar o peito e abaixar o queixo acontecem em milímetros e você pode mudar sua vida pessoal. Se você não fizer isso normalmente, não poderá vir ao estúdio e tentar fazê-lo. Mesmo que seja permitido na vida cotidiana, não é permitido no vazio do palco. Temos que fazer isso: treinar no dia a dia.

Como dar um passo, a dor do mundo. Um passo que pode ser resumido naquele outro.

Vamos criar o seu pisar.

A explicação se tornou longa hoje. 

Vamos ter uma aula de caminhada amanhã."