Poesia em forma de dança: o butoh por Yoshito Ohno e Ana Medeiros


Costumo dizer que danço desde os sete anos de idade, mas que descobri, com o tempo que passei no Japão com Yoshito Ohno, que aprender butoh é como dançar pela primeira vez. É sempre assim quando encontro estes "monstros" da dança: Cecy Frank, Martha Graham e Yoshito Ohno. Eu afino meus ouvidos, poros, olhos tentando absorver a magia, a simplicidade, o carisma de cada um. Eles falam a língua da poesia e a transformam em dança. Em Yoshito Ohno, encontro o mestre sensível, com uma profunda compreensão sobre a natureza humana, que é a base de seu trabalho como artista. 

Nascido em Tóquio no ano de 1938, Yoshito fez história no butoh: em 1959, ele dança o papel do jovem menino em "Kinjiki (Cores Proibidas)", dirigido e coreografado por Tatsumi Hijikata. Este trabalho é considerado a primeira criação coreográfica de butoh na história da dança! A partir daí, ele dança com seu pai Kazuo Ohno no espetáculo "The Dead Sea (Mar Morto)", lança um livro sobre seu progenitor, e viaja pelo mundo (França, Alemanha, Brazil, Canadá, Itália, Polônia, Estados Unidos) ensinando a essência do butoh e consagrando os palcos mundiais com sua dança. Além disso, ensina artistas e alunos no Kazuo Ohno Dance Studio, localizado em Yokohama.


Diz Yoshito que cada pessoa já nasce com sua dança e que "o corpo está marcado, andamos com aqueles que vieram antes de nós andamos com nós mesmos", princípios que trabalho nas aulas que ministro sobre butoh. Esta dança, de acordo com os ensinamentos dele, é fazer muito menos externamente e testemunhar o encontro da essência com a existência. No butoh de Yoshito, se encontra o silêncio e se percebe o corpo criando e trazendo lugares e memórias à tona. Yoshito acredita que dançamos “para mudar o mundo, nada menos que isto" e que, quando o bailarino encontra este lugar dentro de seu corpo, ele se transforma. Em suas aulas, fala aos alunos: "vá ao encontro de si mesmo e traga a essência de suas danças para a vida". Entre tantas coisas que aprendi com Yoshito, descobri também que dançar butoh é levar o âmago ao encontro do meu Shoshin (lugar de origem, primórdio, casa). Em outras palavras, compartilho o que o butoh significa para mim:

É escavar a topografia do corpo, da memória. 
É criar universos que conversam e refletem 
o mundo a nossa volta.
Butoh é um estado inacabado de pequenas explosões 
que revelam territórios íntimos daquele que dança. 
São universos que resistem explicações 
e que desaparecem em instantes.
Butoh é realidade do corpo no tempo que passa
em espaços vazios e transitórios