O Japão pelo olhar do Butoh e pela sensibilidade de Yoshito Ohno

Depois das aulas com Yoshito Ohno, as palavras dele ficavam a reverberar. Fui aos poucos compreendo o Japão pelo olhar do Butoh, pela sensibilidade de Yoshito.

Era como se portas fossem se abrindo através da dança, do aprendizado... E aí surgia a necessidade de escrever. Na verdade as palavras eram como aguá:  rolavam de mim.





Tempo

o corpo profano
adormece
e se desfaz
de mim

a voz do osso
sussurra memórias
esquecidas
que se aproximam
desmanchando
a pele

o sono profundo da bacia
a relevância do pé
no chão

o crânio vibra em polifonias vogais
e a cadência exata
dos ossos

ressoa na coluna vertebral.




A minha amiga tartaruga
Ela e eu somos assim
Nos agarramos com a pata 
na pedra
E ali, ficamos
por muito
muito
muito
muito
tempo
Décadas
no frio
no sol
na chuva
Até que um dia 
criamos 
coragem
e mergulhamos 
de vez.


A cada dia
menos
muito 
menos
só rastros



Embalada na sonoridade 
Dos monges
Subi montanha—sem querer
Depois fui brincar no mar
E a lua
minha companheira
desde o início
também veio brincar!